Não comece pelo MVP 🚫
O MVP veio para substituir o Waterfall e isso aconteceu há 20 anos. O MVP não têm mais lugar em uma cultura de produto moderna orientada ao usuário.
A primeira menção do acrônimo “MVP” veio de Frank Robinson em 2001. Nesse mesmo ano, nasceu o Manifesto Ágil e o primeiro experimento real do Scrum na prática tinha acontecido a menos de 10 anos, ou seja: Os MVPs são antigos.
É importante entender quando que o conceito foi criado porque o intuito do MVP era resolver um problema muito específico na época: O método Waterfall .
Nesta época o mercado tentava esquecer o gosto amargo que a bolha .com deixou. Eis que uma nova abordagem para fazer produtos de tecnologia de forma ágil era necessária. O P de Produto e o Agile, por muito tempo, ganharam espaço não porque fossem bons, mas porque não eram waterfall. 🤷♂️
Mais de 20 anos depois, o método waterfall está morto, mas ainda estamos falando de MVP… Não faz sentido.
O que é um MVP?
MVP é um produto com a mínima viabilidade possível. Bom, até aí você provavelmente já sabe, e provavelmente já sabe o que isso significa, então sendo breve:
[…] O MVP é o produto do tamanho certo para sua empresa e seu cliente. É grande o suficiente para gerar adoção, satisfação e vendas, mas não tão grande a ponto de ser inchado e ter muito risco.
Tecnicamente, é um produto com ROI máximo dividido pelo risco […]
— Frank Robinson, SyncDev
Bom, o MVP é de fato um produto completo em si. Não é uma ferramenta de teste, um protótipo ou simplesmente uma landing page. É a primeira versão do seu produto, aquela que dará início a tudo. Tem que impulsionar as vendas, tem que ser orientado à satisfação dos usuários.
No estágio de MVP, você já deve estar bem ciente de qual é o valor central do seu produto, qual é o seu público e o que – e quanto – eles estão dispostos a pagar por isso.
Ok, até aí tudo organizado e tudo fluindo… Mas e todas as coisas que vêm antes?
Descoberta
Embora Robinson tenha criado o termo, foi Eric Ries quem popularizou o conceito em 2011 após o lançamento do livro The Lean Startup (Ries trabalhava com o conceito desde 2008, mas a popularização veio após o lançamento do livro).
A definição de MVP de Ries era muito semelhante à de Robinsons, no sentido de que você deveria “experimentar” o mercado antes de realmente lançar qualquer coisa. A principal diferença entre os dois era que Ries nunca mencionou dinheiro. O principal objetivo do MVP de Ries era gerar aprendizado.
🧠 Ao considerar construir seu próprio produto mínimo viável, deixe que esta regra simples seja suficiente: Remova qualquer recurso, processo ou esforço que não contribua diretamente para o aprendizado que você busca.
— Eric Ries, The Lean Startup
A partir disto, Produto se tornou muito mais sobre “o que” construir em vez de realmente construir. O que antes começou como um método ou até mesmo uma ferramenta para aprendizado, agora se torna uma disciplina envolvendo: descoberta, prototipagem, lean inception, canvas de proposta de valor, entrevista contínua, árvore de oportunidades, enfim…
Com o passar do tempo, as empresas perceberam que o “ROI máximo dividido pelo risco” não estava começando com o MVP e sim começando com a descoberta. Isso não impede as pessoas de verem os MVPs como ferramentas de descoberta.
Então qual é o verdadeiro problema?
Time to Market vs Product Market Fit
A maior crítica feita frequentemente em relação ao modelo waterfall é sua incapacidade de acertar o Time to Market. Como os projetos são fatiados na horizontal e não na vertical, quando não há mais nada a ser feito, não é porque o produto está pronto, é porque ninguém mais se importa com ele.
Os MVPs foram originalmente concebidos como uma forma de reduzir custos e alcançar o Time to Market mais rapidamente, entregando mais solicitações de clientes com o passar do tempo depois que eles já estavam pagando.
O problema é que o Time to Market é um conceito muito “projeto”, de forma que define uma janela ótima e específica na qual o valor deve ser entregue. Não só esta janela não é estática, como é impossível definir por quanto tempo ela ficará aberta, ou quantas vezes ela abrirá.
E é neste ponto que entra o Product Market Fit, transformando esta janela em um “estado”. Você não alcança o Product Market Fit, você o tem… e pode em um dia não ter mais. Neste conteúdo eu falo mais sobre esse ciclo de Product Market Fit:
Veja, por exemplo, o Snapchat. Eles tiveram um tempo considerável para tracionar vendas, mas perderam o Product Market Fit nos anos que conseguiram ter maior crescimento, por mais insano que pareça, eles conseguiram recuperar o Product Market Fit após 2018 e vêm crescendo muito desde então.
Um MVP nunca seria capaz de lidar com esse tipo de situação. O que o Snapchat deveria fazer nesta situação? Criar o Snapchat 2 e ver como o mercado reagiria só que de forma diferente da última vez?
Como sempre falamos aqui na comunidade, os MVPs são um recorte no tempo, uma foto que você tira com base no que você vê agora, e que pode muito bem estar errada e desatualizada em duas semanas.
De certa forma, os MVPs sozinhos são como pequenos projetos. Em vez de gastar muito tempo e dinheiro como faria usando waterfall, você gasta menos tempo e dinheiro, mas não tem noção do resultado do seu trabalho.
TL;DR
Os MVPs não são por natureza errados, muito pelo contrário na verdade. Ao lançar a primeira versão do seu produto, fazer isso com um MVP em mente é uma prática de produto muito saudável para começar.
Com o passar do tempo, o MVP se tornou menos um método e mais um conceito para a primeira versão Alpha ou versão V.1 do seu produto.
As técnicas atuais de descoberta superaram muito o MVP em termos de assertividade e previsibilidade de resultados, mas é inegável que a clareza só vem quando você chega ao mercado pela primeira vez.
Os MVPs não são mais o ponto de partida, mas ainda são a melhor maneira de validar o conceito principal do produto que você possui.
Obrigado por ler até aqui e até a próxima! 👋